domingo, 27 de janeiro de 2013

Minha viagem ao Egito

Viajar ao exterior tornou-se bem acessível para nós brasileiros. Tem sido uma oportunidade muito boa para se conhecer novas culturas, e assim tenho feito nos últimos anos. Conheci a Itália em 2009, Peru 2011 e a Grécia 2012. Este ano fui a mais um país que é nome de capítulo de livro de História: o Egito.
Entre a Pirâmide e a Esfinge. E em Abu Simbel.
Assim como no ano passado, quando fui a Grécia em meio à grave crise econômica local que motivara várias manifestações locais, o Egito também passa por momento delicado. A revolução que derrubou Hosni Mubarak segue em curso, agora com a insatisfação com o presidente eleito Mohammed Mursi e seu grupo, a Irmandade Muçulmana, que apresentaram uma constituição ainda longe de garantir a democracia no país. 

O fato é que o Egito era um lugar que eu e a Vanessa queríamos conhecer. Acompanhávamos o noticiário e no meio do ano as manifestações haviam dado um tempo. Achamos que era seguro ir, e compramos o pacote. Um mês depois de fechada a viagem, as manifestações e as notícias de violência voltaram aos jornais por conta do referendo sobre a nova constituição. Agora já era. Pacote comprado, não dava para desistir. Desde então acompanhamos com mais atenção ainda as notícias sobre o país. Passado o referendo, meio a contragosto, a parte do povo contrária ao novo presidente foi se acalmando. Nossa viagem foi no início de janeiro e chegamos lá em um clima de relativa tranquilidade.

A viagem
Foi o lugar mais longe que já estive até agora. Voo de BSB para o Rio, do Rio para Dubai (que é bem depois do Egito), e de Dubai para chegar ao Cairo. Entre voos e conexões foram quase dois dias de viagem. Ficamos no aeroporto de Dubai por oito horas. O lugar é gigante. O petróleo transformou o país que é minúsculo em um paraíso de milionários. Dá para se distrair por lá olhando as vitrines e observando uma verdadeira torre de babel, com gente de todo mundo pegando vôos para todo canto. Enfim, três horas de voo depois, chegamos ao Cairo.
Vista do Cairo e a sede do partido de Mubarak perto da Praça Tahrir, incendiado durante a revolução.
Fomos recebidos por Ahmed, da empresa turística local. Antes de ir, lemos bastante e nos convencemos de que um pacote com guia, translado e tudo mais era importante. Bancar o mochileiro por aqui tem muitas dificuldades, principalmente por conta da língua e do hábito local de negociar tudo, o que se mostrou muito irritante.

Os serviços eram em espanhol. O português não tem o alcance necessário em muitos pacotes turísticos. Com isso pude praticar o meu fluente portunhol. Em outras ocasiões usei também o meu inglês estilo "Joel Santana english school". A gente aprende na marra com estas oportunidades.

O visto é obtido comprando um selo no aeroporto antes de passar pela migração. Bem mais simples e barato do que tirar o visto na embaixada em Brasília. Pegamos as malas e fomos para o hotel em Gizé. Já podíamos ver as pirâmides do terraço. Cansados, com o fuso horário de quatro horas a mais e um frio que não esperávamos, o primeiro dia foi mais para descansar e se preparar para os passeios no dia seguinte.

O Cairo
A capital egípcia é a maior metrópole africana e do mundo árabe. Que me perdoem os cairotas, mas foi o lugar mais caótico que já vi na vida. O trânsito em Lima já era esquisito, mas no Cairo faz parecer São Paulo um lugar tranquilo. Seta, semáforo, preferência... nada disso existe. O único acessório é a buzina. Andamos no ônibus da companhia de turismo. Era uma diversão ver, mas não teria a ousadia de dirigir por lá. Tenso demais. Os passeios foram muito bons. Mesquita de Alabastro na Cidadela de Saladino, de onde se tem uma vista ampla da cidade. Lembra Brasília na época da seca, sendo que aqui a névoa ocre é durante todo o ano. Na mesquita uma estante chamada Free Books tinha livros em vários idiomas sobre o Islã. Enfim achei algo em português. O islamismo sempre me chamou a atenção. Finalmente eu pude entrar em uma mesquita. Depois do almoço o momento mais aguardado: as pirâmides.
Mesquita de Alabastro e o Museu do Cairo.
É impressionante de fato. Considerando a época em que foram construídas e ainda estarem de pé até hoje. Não dá para descrever. Tem que estar lá. Tem o lado negativo dos vendedores mais chatos que já vi. O pessoal tenta de empurrar um monte de coisa, que você poderia até se interessar, mas gera uma antipatia tão grande, que não dá para comprar nada. Oferecem marcador de livro feito com papiro pirata (na verdade folha de bananeira), pirâmides feitas de areia, tudo por um euro ou um dólar. Nada tem preço fixo. É tudo conforme o freguês.

Além das pirâmides, a esfinge é outro grande momento. A escultura maciça e gigantesca não fica atrás e complementa o visual no platô de Gizé. No dia seguinte acordamos cedo e pegamos um avião para Luxor.

Cruzeiro pelo Nilo
Em Luxor nos acomodamos no navio Grand Princess um dos vários que faz o trajeto subindo o rio. Foram quatro dias visitando ruínas de templos e pequenas cidades no interior do país. Templos como Karnak, Edfu, de Hatshepsut e outros mais que mostram que o Egito não era só pirâmides, mas muito mais. O Vale dos Reis também é outro exemplo do que legado dos faraós. Até hoje são feitas escavações e túmulos são encontrados sob montanhas, em um trabalho sem fim. Em vários templos é possível ver inscrições muito bem conservadas, com pinturas ainda coloridas e hieróglifos em baixo e alto relevo.
No templo de Karnak, e o navio Grand Princess
Lago Nasser
Na cidade de Assuã pegamos outro voo para Abu Simbel, templo com as maiores esculturas do país. Talhado na montanha, o outro lado impressionante do templo é que ele foi recortado em milhares de peças e transportado para mais acima na montanha em razão do represamento do Rio Nilo na cidade de Assuã que originou o grande Lago Nasser, um lago artificial em pleno deserto pelo qual navegamos por três dias. Além de Abu Simbel, vários outros templos foram transportados para pontos mais altos afim de não ficarem submersos. Trabalhos de engenharia executados na década de 60 que preservaram riquezas culturais milenares. De volta a Assuã, e pegaríamos o avião de volta ao Cairo.

De volta a capital
Após uma semana navegando pelo Nilo e vendo toda sorte de templos, até que senti falta do caos urbano. Nosso grupo, foi conhecer um outro lado da capital, o bairro copta, onde se concentra a  minoria cristã. Outro ponto alto foi conhecer a igreja construída no local onde o menino Jesus teria estado em sua fuga para o país acompanhado por Maria e José. Perto dela uma sinagoga que seria o local onde Moisés foi resgatado em um cesto pela filha do faraó. Uma conjunção das três religiões monoteístas. Judeus, muçulmanos e cristãos tinham que se tocar e ver que suas origens são tão comuns e que Deus é o mesmo para os três.
Antes do bairro copta, estivemos em Saqqara, onde estão as pirâmides mais antigas, uma delas em degraus, outra parecendo um montinho de areia. Depois a visita ao mercado Khan Al-Khalili que faz a Feira do Paraguai em Brasília parecer uma quitanda. A noite o espetáculo de luz e som nas pirâmides.
Saindo de uma pirâmide em Saqqara. E a entrada para Igreja de São Marcos.
Alexandria
De manhã cedo pegamos a estrada rumo ao norte. No meio do caminho acontece a surpresa: falta gasolina na van. E havia falta de combustível em um país árabe. Aprendemos na prática que o Egito não é auto-sustentável e importa da Arábia Saudita. Com a crise econômica, muitos postos estão desabastecidos. Rodamos a cidade de Wadi El-Natrum em busca de gasolina e nada. A solução foi aguardar a gasolina que veio do Cairo.
Afinal chegamos à cidade fundada por Alexandre Magno. Imaginava que esta cidade mediterrânea fosse um pouco mais arrumada, mas seguia o mesmo estilo de trânsito caótico e sujeira nas ruas do Cairo. Visitamos as catacumbas de Kom o Shokafa, de origem romana. Lá havia outra estante com livros sobre o islã gratuitos para os turistas. E o grande achado da Vanessa: um único exemplar do Alcorão em português em meio a livros escritos em sueco! Estivemos ainda no forte construído no local onde ficava o Farol de Alexandria e por fim na nova Biblioteca, construída em 2002 próxima à antiga biblioteca. Um lugar belíssimo dedicado à cultura em um país tão cheio de contrastes.
Forte onde ficava o Farol de Alexandria e a nova Biblioteca de Alexandria.
Pirâmides de novo
Voltamos no mesmo dia para o Cairo. O dia seguinte era o último. Como o voo era só a noite, dava tempo para um último passeio e por conta própria retornamos às pirâmides. Agora sem guia, mas com toda a manhã livre para explorar o local e já sabendo das manhas, pudemos entrar na claustrofóbica Pirâmide de Quéops, a maior das três, e andamos por todo o platô. Era cedo e havia poucos vendedores chatos. Também não ventava e o clima estava mais agradável do que na primeira vez. Percorremos toda a área a pé até chegar na esfinge e tirar as últimas fotografias de uma viagem das mais marcantes. De volta ao hotel, de lá para o aeroporto, então Dubai, treze horas de voo sobre a África e o Atlântico até regressar ao Brasil. Que viagem!
Esfinge e a grande pirâmide ao fundo.
Passada uma semana mais ou menos, vejo os noticiários no país. O dia 25 de janeiro marcava os dois anos da revolução. Enquanto estivemos por lá o clima estava bem tranquilo. Nove dias depois do nosso retorno, a data coincidiu também com o julgamento dos envolvidos em um grande confronto num jogo de futebol na cidade de Porto Said, que gerou outras confusões. Por condenarem 21 pessoas à morte, outras 30 morreram em confrontos com a polícia. Esta crise é reflexo das décadas de ditadura. Eles precisam conquistar a democracia, mas o derramamento de sangue tem sido muito grande. Graças a Deus não presenciamos nenhum conflito desses, mas é triste ver o que está acontecendo com uma nação que representa tanto para a história da humanidade. Aqui de longe agora, fico na torcida para que os egípcios possam superar o quanto antes esta situação, e comecem de fato a reconstruir a grandeza de seu país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário