O Conselho Regional de Cultura do Cruzeiro vem apoiar a questão das grades do Cruzeiro Novo, mas propõe uma reflexão que chamou nossa atenção.
A decisão do STF se baseia no tombamento de Brasília, o que tem levado alguns moradores em redes sociais a sugerir que o Cruzeiro deixe de ser área tombada.
Consideramos tal proposta um erro e entendemos que o Cruzeiro é parte importante na área tombada como Patrimônio cultural da Humanidade.
A discussão em torno das grades ocorre em razão da segurança, sem prejuízo do tombamento histórico. O fato do Cruzeiro ter hoje seus pilotis cercados, diferente do que ocorre na Asa Sul e Asa Norte, é por serem as quadras diferentes. Nossos blocos residenciais são rentes às ruas. Não temos Superquadras, com os jardins, a área de circulação de pedestres e um traçado de ruas internas que obrigam os veículos a desacelerar.
Saímos de nossa portaria e já estamos em frente à rua. Quando o Cruzeiro Novo foi construído, não havia previsão para a quantidade de carros que temos hoje. As grades no Cruzeiro Novo se justificaram pelas próprias condições urbanas da cidade.
O Cruzeiro, contudo, faz parte de um contexto maior. Faz parte da capital federal, do plano piloto concebido por Lúcio Costa, que foi consagrado mundialmente como um exemplo de arquitetura e urbanismo. De qualidade de vida.
O Cruzeiro é diferente das Asas Sul e Norte, mas é parte desta cidade. Seu tombamento se justifica pelos fatores históricos que lhe deram origem. Mas é preciso reconhecer que diferenças existem.
A população só instalou as grades quando uma lei autorizou. O fato desta lei ter caído e ferir o tombamento não muda o fato das grades serem uma realidade necessária.
Mais do que proteger as propriedades, protege pessoas que ficam embaixo dos blocos e podem estar sujeitas a acidentes. Crianças brincam embaixo do bloco e ficam menos expostas.
O tombamento por outro lado não deve ser visto como um fardo. Representa proteger a cidade da especulação imobiliária, preservando características como o gabarito de 4 andares e o não aumento da densidade populacional que já é bastante alta.
A busca por uma solução precisa ser conciliatória, atendendo à segurança, mas também preservando um título que é referência mundial. O Cruzeiro não pode fazer tal opção, a qual nem é viável. O Estado precisa assumir seu papel em garantir a nossa segurança e evitar uma vergonha mundial que seria abrir mão de tão importante honraria.
Rafael Fernandes de Souza é vice-presidente do
Conselho Regional de Cultura do Cruzeiro