Continuando com os posts comemorativos, hoje celebro mais uma efeméride, mais um aniversário redondo. Nesta manhã de Natal escrevo sobre o presente que ganhei há 30 anos.
Foi no Natal de 1985 que eu ganhei aquele que foi o meu brinquedo favorito por toda infância: o boneco Arma Pesada dos Comandos em Ação da Estrela. Nos anos 80 estes eram os brinquedos favoritos de quase todos os garotos do meu bloco. Os bonecos articulados e cheios de equipamentos e veículos eram diversão pura. Numa época em que brincávamos na rua ou embaixo do bloco, cada um gostava de levar seus soldados para batalhas e missões na grama alta atrás do bloco.
Eu tinha de sete para oito anos e criava uma grande expectativa em ganhar um Comandos em Ação do meu pai. O primeiro que ganhei foi o Comandante Cobra. Foi incomum, pois quase não ganhava brinquedos se não fosse Natal ou meu aniversário, mas este ganhei num dia qualquer. Eu já tinha o vilão mas queria o herói. Era engraçado porque naquela época eu e meu irmão tínhamos um pacto típico de crianças: não poderíamos ter o mesmo brinquedo, afinal os bonecos iriam interagir e não faria sentido ter dois iguais. Então nós dois combinávamos qual cada um ia querer, mesmo sem saber se o teríamos ou não.
E foi assim que escolhi o soldado verde com pente de balas no peito em forma de X. Aquele seria o meu primeiro herói da série. Antes de saber mais sobre ele até dei um nome: Roger. A gente demorava a ganhar um boneco daqueles. Enquanto alguns coleguinhas já tinham vários, eu ficava ansioso para ter o segundo. Fiz altos preparativos. Em uma caixa de sapato arrumei o que seria a sua base e dormitório. Ficava entretido nas Lojas Brasileiras (quem lembra?) olhando as cartelas dos personagens a venda. Desenhava o personagem e sonhava com o dia que o ganharia.
Eis que veio o Natal. Meus pais faziam a encenação toda. No caso, colocar um sapato na janela para Papai Noel deixar o presente. Eu tinha oito anos e realmente não lembro se acreditava naquilo tudo, mas seguia o roteiro a risca. E quando deu a meia-noite saímos da sala para o quarto e lá estavam os embrulhos. Lembro do meu irmão chorando pois o Comandos em Ação dele era diferente do que ele havia escolhido. Acho que ganhou o Cabeça de Ponte no lugar do Raio Laser. Já o meu não: era ele! Era o Arma Pesada!
Realização de um sonho de criança. Acho que a expectativa em ganhar um presente fazia com que ao ganhá-lo a felicidade fosse muito maior do que se eu ganhasse vários a todo momento. Foi muito bom. Logo, o Roger, quer dizer, o Arma Pesada era promovido a líder do meu esquadrão de brinquedos, que tinha ainda poucos Comandos em Ação, mas reunia transformes, soldadinhos de plástico e bonecos de outras marcas. Como vi que ele tinha um codinome na embalagem, acabou virando nome e sobrenome e foi assim que ele se tornou Gladion Roger.
Nessa época eu já fazia minhas histórias em quadrinhos. Na verdade era tudo meio que o mesmo universo: os brinquedos eram personagens também, então nada mais natural que o favorito fosse alçado ao status de um dos personagens principais. Eu já tinha um proto Dinâmico R, uma versão inicial do que se tornaria o herói nos livros.
A medida que eu desenvolvia as histórias o Arma Pesada ora era um boneco mesmo, ora era o líder do esquadrão. Foi só em 1996 que eu dei o formato conhecido nas publicações e assim o Gladion Rogher foi o brinquedo que se manteve como personagem.
Ele era o agente especial Gladion Rogher do Esquadrão Rôfega, unidade especial a serviço do Supremo Conselho Rofegano para missões secretas. Seu esquadrão estava inativo há pouco tempo, por razões que não cheguei a definir, quando ele foi convocado para uma nova missão: vir para a Terra atrás de um antigo artefato: o anel Dýnamis Érrion. A bordo da Nave Triangular Explorador e trazendo um clandestino só descoberto na chegada: o Caixinha Mágica. Logo eles conheceriam o Dinâmico Erre que é quem estava com o anel, e depois de alguns breves desentendimentos por conta de sua missão, acabariam se tornando amigos, com Gladion e Caixinha morando na casa do Dr. Rupert no Cruzeiro Velho.
O Gladion tornou-se aquele sujeito duro, meio bravo, mas uma referência para o jovem Dinâmico Erre. Foi uma maneira até meio natural de manter o soldado que não era mais de brinquedo nas histórias.
O visual dele sempre gerou uma polêmica. Primeiro porque o Fábio detestava desenhar o pente de balas no peito. Era muito detalhe para fazer aquele monte de balas. E outro que ficava na cara que era o Arma Pesada dos Comandos em Ação. No fim concordamos em tirar o pente de balas e também em reduzir a arma que ele carregava que era muito grande para "vida real". Eu nunca neguei que ele era uma homenagem, uma referência aos Comandos, mas precisava mesmo diferenciar em algumas coisas.
Com isso inventei as características que diferenciam os humanos terráqueos dos humanos rofeganos: os olhos totalmente azuis, inclusive a esclerótica e os quatro dedos na mão. Assim ele tinha de usar óculos escuros quando andasse entre nós. A falta dos dedos mindinhos era disfarçada com uma desculpa sobre mutilação em guerra. E assim ele foi participação obrigatória no primeiro gibi do Dinâmico. O nome também ganhou um "H" para diferenciar e virou Rogher (lê-se Róguer) comforme a boa pronúncia do rofeganês.
E quanto ao meu boneco de trinta anos atrás? Tenho ele até hoje. A medida que fui crescendo, me desfiz de muitos brinquedos, mas alguns eu fiz questão de guardar. O Arma Pesada naturalmente está entre eles e recebeu um tratamento especial. Hoje ele fica numa caixinha de relógio forrada com um algodão sintético e enrolado em plástico bolha. Parece até um caixão, mas ele não morreu. Está lá preservado. Será sempre uma boa e constante lembrança dos meus tempos de criança.
Um tempo atrás foram lançadas versões comemorativas dos 25 anos dos G.I.Joe, a versão original americana. Eu comprei pela internet e tenho este outro, que não pretendo tirar da embalagem, pois agora não é mais um brinquedo, mas um item de colecionador. A gente cresce, mas mantém certos vínculos, hehe.
PS: Comentei com vocês que na San Diego Comic Con encontrei uma versão "jumbo" do Arma Pesada. Uma réplica enorme do boneco. Na época do evento ele estava apenas em exibição e para venda haviam limitadas versões em miniatura, que não consegui comprar pois esgotou logo no primeiro dia. Pois a versão jumbo foi posta a venda pela internet meses depois. O preço salgado com o frete internacional e em dólar me fizeram pensar, mas não teve jeito. Fiz a encomenda há um mês atrás. A expectativa era que chegasse a tempo do Natal. Não chegou e acompanhando o rastreamento do pacote ele saiu dos EUA, chegou ao Rio de Janeiro e sei lá porque, voltou para os EUA. Não recebi ainda um comunicado do motivo, mas estou acompanhando. Afinal, além do alto investimento, eu quero receber esta versão exclusiva. Ao chegar eu mostro aqui para vocês. Feliz Natal!