quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O rapto do azul.

O uniforme do Dinâmico Erre é azul por uma simples razão: sempre foi minha cor favorita. É também a cor da bandeira da minha cidade, o Cruzeiro. É uma cor que representa liberdade, é uma cor fria, relacionada com introspecção, e uma série de outros significados positivos.

Historicamente, uma outra cor foi associada com um movimento político muito forte: o socialismo. Partidos de esquerda do mundo todo adotaram o vermelho como símbolo, por ser uma cor que representa a luta das classes trabalhadoras contra a opressão burguesa.

No Brasil posterior à Nova República um partido sugiu e adotou a cor vermelha como um símbolo, junto com uma estrela. Em meados dos anos 90, a rivalidade política do Distrito Federal levou a uma luta de cores, a uma polarização: o vermelho contra o azul.

Pois bem. Quero aqui assumir apoio a um dos lados, até para evitar uma comparação que muito me incomodou na eleição de 2002.

O vermelho associado ao PT, como já dito é em função de sua origem ligada ao socialismo. Muitos hoje podem criticar o partido por ter se afastado de sua ideologia fundadora, a ponto de outros partidos surgirem a partir do afastamento de militantes mais à esquerda. Mas o símbolo petista por excelência sempre foi a estrela vermelha.

Na polarizada política candanga, um personagem deu as caras pela primeira vez em 1988, indicado pelo então presidente José Sarney para ser o governador: Joaquim Roriz. O fazendeiro goiano inaugurou então uma marca na política local: o coronelismo do curral eleitoral, típica dos anos de República Velha no Brasil, com um paternalismo discarado, a ponto de muitos de seus eleitores a ele se referirem como "painho" ou "Pai Roriz".

Coube ao PT do Distrito Federal a condição de maior opositor a este modelo na capital federal. A eleição de 1990 foi a primeira da cidade. E tal qual o Brasil, que ficou vinte anos sem votar, quando votou pela primeira vez, votou muito mal. O Brasil elegeu Collor (PRN) em 89 e o DF elegeu Roriz (PTR) em 90. Faço juízo de valor aqui com certeza. Exponho minha opinião. Entendo que a falta de costume com o voto levou a estes disparates.

Em 94, o PT conseguiu vencer e elegeu Cristovam Buarque. Seu governo foi muito bem avaliado, apesar de muitas ressalvas a serem feitas. Para 98, veio o primeiro duelo aberto: Roriz x PT. Não era Roriz x Cristovam, embora o então governador fosse o candidato. O adversário do coronel sempre foi o Partido dos Trabalhadores. Nunca se tratou de uma rivalidade PT x PMDB.

Roriz não tem nem nunca teve partido. Se elegeu no DF primeiro pelo PTR (hoje extinto), foi para o PMDB e agora está no PSC. O Partido de Roriz é ele mesmo. Seu sobrenome. Basta ver o tanto de "Rorizes" que disputam as eleições no DF. É filha, sobrinho, primo e agora até a esposa.
Ele tinha mais era que fundar o PR: Partido do Roriz. É fato que já existe um PR, mas Partido da República para mim é uma redundância. Não são todos os partidos republicanos? Ou existe algum partido monarquista?

Enfim. Roriz faz política para ele mesmo e sua família. O governador dos pobres gosta de pobre sim. Quer todo mundo pobre e votando nele, como reza a cartilha coronelista do século XIX.
Nesta rivalidade, para marcar posição contra o vermelho do PT, seu maior adversário, Roriz adotou uma cor para se opor. Tivesse estudado cores primárias e secundárias, na aula de Artes, teria escolhido o verde como oposição ao vermelho, mas sei lá por que, optou pelo azul para simbolizá-lo.

Nenhuma ideologia, nenhuma historicidade. Azul apenas para se opor ao vermelho. E assim ficou a rivalidade política do DF. Mais intensa que o verde x amarelo de Gama e Brasiliense. E que ultrapassa a insanidade de algumas torcidas organizadas que vão ao estádio para brigar e nem assistem ao jogo de seus times.

Com isso o azul foi usurpado. Minha cor favorita. A cor do Dinâmico Erre, da ARUC, do Cruzeiro. Sem nenhum significado mais profundo. Apenas a cor do coronel que muda de partido como tantos outros políticos oportunistas. O coronel que cheio de processos e de vida pública tão escandalosa, se viu obrigado a se retirar da disputa eleitoral com uma jogada quase inédita e lançou a própria esposa à exposição pública sem nenhum traquejo eleitoral. O azul deveria ser substituído pelo laranja!

É para marcar posição que faço este texto. O Dinâmico Erre, azul e com a letra R por símbolo, estará de roupa nova até o dia 31 de outubro. Até que o azul possa ser associado ao que há de positivo, sem lembrar uma figura tão retrógrada quanto este coronel. Para que o azul possa ser vestido sem envergonhar o que representa, o Dinâmico Erre estará aqui de vermelho.
Por oposição à política da família Roriz meu voto será, mais uma vez na cor vermelha.

2 comentários:

  1. Olá, Rafael!

    Adorei o seu texto "O Rapto do Azul" e coloquei um link no site do Zine Oficial.

    Abraços,
    Tomaz.
    www.zineoficial.com.br

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  2. Esse texto reflete extamente o que sempre se passou aqui no DF em relação a família Roriz e sua politica descabível.

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