domingo, 25 de janeiro de 2015

Sobre o retorno do Cruzeiro a sua poligonal original

Ao tempo em que louvo a iniciativa do GDF em reunificar as Regiões Administrativas do Cruzeiro (RA XI) e Sudoeste/Octogonal (RA XXII), assim como outras RAs que foram desmembradas em demasia por gestões passadas, venho demonstrar uma preocupação e argumentar o que para muitos pode parecer ser óbvio, mas para outros não, e prefiro reforçar este entendimento e torná-lo público.

Ao nomear os administradores interinos, o Governador Rodrigo Rollemberg nomeou Paulo Feitosa para Administrador Regional do Sudoeste e como interino do Cruzeiro. Pelo que tenho acompanhado na imprensa e nos blogs sobre política, a redução no número de administrações regionais ainda passará pela Câmara Legislativa, mas os administradores nomeados que acumulam RAs como interinos tenderiam a administrar estas regiões por inteiro após sua fusão ser aprovada.

Minha preocupação aqui não é com o nome do Administrador, mas sim com o nome da Administração Regional que ficará após esta fusão. O fato de o interino ser para o Cruzeiro e efetivo para o Sudoeste, e já ter lido em alguns blogs que a Administração resultante seria conhecida por Sudoeste/Octogonal/Cruzeiro, ou ainda somente Sudoeste me causam profunda preocupação, afinal o nome correto só pode ser um: Administração Regional do CRUZEIRO.

Se este vier a ser o nome, bastando para isso a reincorporação do Setor Sudoeste e das Áreas Octogonais ao Cruzeiro como era antes, tudo bem. Mas estou incomodado com o que tenho lido e por isso venho expor minha opinião com os seguintes argumentos, caso alguém pense diferente e outro nome seja cogitado para esta Região.

1-     O Cruzeiro tem sua data de aniversário celebrada em 30 de novembro de 1959. É núcleo pioneiro anterior a Brasília, criado para receber os servidores públicos transferidos da antiga capital no Rio de Janeiro. O Cruzeiro Novo surgiria em 1967. A Octogonal em 1974 e o Sudoeste em 1989 são setores mais recentes que surgiram próximos ao Cruzeiro. Antiguidade é posto e o Cruzeiro é a cidade-mãe.

2-     A Administração do Cruzeiro foi criada em 1987 dentro da Região Administrativa de Brasília (RA I). Uma luta que levou anos. Trata-se de um dos mais antigos núcleos urbanos da Nova Capital que esteve relegado a segundo plano por quase trinta anos, ora visto como plano-piloto ora como cidade-satélite e na prática não sendo nenhum dos dois. Em 1989 o DF passou por uma primeira reorganização administrativa e as oito Regiões Administrativas originais (Lei n° 4.545, de 10 de dezembro de 1964) passaram a ser doze (Lei n° 49, de 25 de outubro de 1989). O Cruzeiro efetivamente passava a ser uma RA, equiparando-se a outras cidades do DF com o mesmo status.

3-     A Região Administrativa XI – Cruzeiro foi composta em 1989 por quatro setores: Cruzeiro Velho (Setor de Residências Econômicas Sul-SRES), Cruzeiro Novo (Setor de Habitações Coletivas Econômicas Sul-SHCES), Áreas Octogonais Sul (AOS) e Setor Sudoeste (SuperQuadras Sudoeste – SQSW e Setor de Habitações Coletivas Econômicas Sudoeste - SHCE/SW). Uma RA de tamanho relativamente pequeno comparado às demais, mas com uma população em torno de 60 mil habitantes e uma alta renda per capita.

4-     Concurso promovido pelo Rotary Clube e com apoio da Administração Regional em 20 de julho de 1993 escolheu a bandeira e o símbolo desta cidade, que composta por quatro setores é representada por uma cruz estilizada com uma estrela em cada ponta representando justamente estes setores. Em 23 de dezembro de 2014 a Administração Regional inaugurou uma escultura na entrada da cidade, próximo à EPIA, que reproduz este símbolo e dá as boas vindas a quem chega ao Cruzeiro.


5-     Toda a formação e a identidade cultural desta região são originárias do Cruzeiro. É lá onde temos a Unidos do Cruzeiro (ARUC), a Associação dos Idosos do Cruzeiro, a Liga de Futebol Amador do Cruzeiro, o Cruzeiro Futebol Clube e mais recentemente a Academia Cruzeirense de Letras e a Casa da Memória do Cruzeiro. Aliás, o gentílico usado na região é cruzeirense, e esta palavra é usada de maneira muito forte, com verdadeiro espírito de identidade cultural. Alguém já viu morador do Sudoeste ou Octogonal usando um gentílico próprio?

6-     O Cruzeiro sempre foi a RA XI, assim como a Zona Eleitoral da região é a 11ª, e esta engloba Sudoeste e Octogonal além do Setor Militar Urbano. Sudoeste/Octogonal eram a RA XXII (por coincidência um múltiplo de 11).

7-     Quando da criação da RA XXII em 2003, até se cogitou criar um nome só para os dois setores. Um nome como Interparque até foi cogitado, mas nunca pegou. A região foi conhecida por um nome duplo, pois não havia uma conexão, uma identidade maior que servisse tanto para Sudoeste quanto para Octogonal. Aliás o setor mais antigo ainda ficou depois no nome, e geralmente as pessoas só se referiam mesmo era à Administração do Sudoeste. Nunca vi ninguém da Octogonal reclamar.

8-     Sudoeste e Octogonal são dois setores com uma renda per capita das mais altas do DF, um comércio forte e uma população de 50 mil pessoas. Mas os dados do Cruzeiro não ficam tão atrás assim, e afinal, para se definir e nomear uma Região Administrativa, que não é exatamente uma prefeitura, mas é o que dá a condição de cidade para núcleos urbanos no DF, o que ressalto aqui é a história e a identidade cultural construída ao longo de 55 anos.

9-     Discordo de um nome conciliatório. Chamar a RA agora de Sudoeste/Octogonal/Cruzeiro ou Cruzeiro/Sudoeste ou qualquer outro composto seria desconsiderar todo o histórico local. Tanto Sudoeste quanto Octogonal são nomes de setores, assim como o são Cruzeiro Velho (SRES) e Cruzeiro Novo (SHCES). O nome consagrado historicamente e que representa a junção dos quatro é um só: CRUZEIRO.

Posso estar sendo redundante, e para muitos isto talvez nem tenha a menor importância. O que se quer com a fusão é diminuir os gastos com duas administrações para uma área geográfica pequena. Neste ponto concordo plenamente. Mas vejam o exemplo da Ceilândia que teria duas administrações. A maior cidade do DF usou argumento equivalente. Uma Administração Regional é parte da identidade das cidades, e deve valer o legado histórico construído por seus moradores.


Rafael Fernandes de Souza é professor de História da rede pública com especialização em História Cultural. Foi Gerente de Cultura do Cruzeiro (2011 a 2014) e implantou a Casa da Memória do Cruzeiro em parceria com o Arquivo Público do DF.

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