Ao
tempo em que louvo a iniciativa do GDF em reunificar as Regiões Administrativas
do Cruzeiro (RA XI) e Sudoeste/Octogonal (RA XXII), assim como outras RAs que foram
desmembradas em demasia por gestões passadas, venho demonstrar uma preocupação
e argumentar o que para muitos pode parecer ser óbvio, mas para outros não, e prefiro
reforçar este entendimento e torná-lo público.
Ao
nomear os administradores interinos, o Governador Rodrigo Rollemberg nomeou
Paulo Feitosa para Administrador Regional do Sudoeste e como interino do
Cruzeiro. Pelo que tenho acompanhado na imprensa e nos blogs sobre política, a
redução no número de administrações regionais ainda passará pela Câmara
Legislativa, mas os administradores nomeados que acumulam RAs como interinos
tenderiam a administrar estas regiões por inteiro após sua fusão ser aprovada.
Minha
preocupação aqui não é com o nome do Administrador, mas sim com o nome da
Administração Regional que ficará após esta fusão. O fato de o interino ser
para o Cruzeiro e efetivo para o Sudoeste, e já ter lido em alguns blogs que a
Administração resultante seria conhecida por Sudoeste/Octogonal/Cruzeiro, ou
ainda somente Sudoeste me causam profunda preocupação, afinal o nome correto só
pode ser um: Administração Regional do CRUZEIRO.
Se
este vier a ser o nome, bastando para isso a reincorporação do Setor Sudoeste e
das Áreas Octogonais ao Cruzeiro como era antes, tudo bem. Mas estou incomodado
com o que tenho lido e por isso venho expor minha opinião com os seguintes
argumentos, caso alguém pense diferente e outro nome seja cogitado para esta
Região.
1- O
Cruzeiro tem sua data de aniversário celebrada em 30 de novembro de 1959. É
núcleo pioneiro anterior a Brasília, criado para receber os servidores públicos
transferidos da antiga capital no Rio de Janeiro. O Cruzeiro Novo surgiria em
1967. A Octogonal em 1974 e o Sudoeste em 1989 são setores mais recentes que
surgiram próximos ao Cruzeiro. Antiguidade é posto e o Cruzeiro é a cidade-mãe.
2- A Administração
do Cruzeiro foi criada em 1987 dentro da Região Administrativa de Brasília (RA
I). Uma luta que levou anos. Trata-se de um dos mais antigos núcleos urbanos da
Nova Capital que esteve relegado a segundo plano por quase trinta anos, ora
visto como plano-piloto ora como cidade-satélite e na prática não sendo nenhum
dos dois. Em 1989 o DF passou por uma primeira reorganização administrativa e
as oito Regiões Administrativas originais (Lei n° 4.545, de 10 de dezembro
de 1964) passaram a ser doze (Lei n° 49, de 25 de outubro de 1989). O Cruzeiro
efetivamente passava a ser uma RA, equiparando-se a outras cidades do DF com o
mesmo status.
3- A
Região Administrativa XI – Cruzeiro foi composta em 1989 por quatro setores: Cruzeiro
Velho (Setor de Residências Econômicas Sul-SRES), Cruzeiro Novo
(Setor de Habitações Coletivas Econômicas Sul-SHCES), Áreas Octogonais Sul
(AOS) e Setor Sudoeste (SuperQuadras Sudoeste – SQSW e Setor de
Habitações Coletivas Econômicas Sudoeste - SHCE/SW). Uma RA de tamanho
relativamente pequeno comparado às demais, mas com uma população em torno de 60
mil habitantes e uma alta renda per capita.
4- Concurso
promovido pelo Rotary Clube e com apoio da Administração Regional em 20 de
julho de 1993 escolheu a bandeira e o símbolo desta cidade, que composta por
quatro setores é representada por uma cruz estilizada com uma estrela em cada
ponta representando justamente estes setores. Em 23 de dezembro de 2014 a
Administração Regional inaugurou uma escultura na entrada da cidade, próximo à
EPIA, que reproduz este símbolo e dá as boas vindas a quem chega ao Cruzeiro.
5- Toda
a formação e a identidade cultural desta região são originárias do Cruzeiro. É
lá onde temos a Unidos do Cruzeiro (ARUC), a Associação dos Idosos do Cruzeiro,
a Liga de Futebol Amador do Cruzeiro, o Cruzeiro Futebol Clube e mais
recentemente a Academia Cruzeirense de Letras e a Casa da Memória do Cruzeiro. Aliás,
o gentílico usado na região é cruzeirense,
e esta palavra é usada de maneira muito forte, com verdadeiro espírito de
identidade cultural. Alguém já viu morador do Sudoeste ou Octogonal usando um
gentílico próprio?
6- O
Cruzeiro sempre foi a RA XI, assim como a Zona Eleitoral da região é a 11ª, e
esta engloba Sudoeste e Octogonal além do Setor Militar Urbano.
Sudoeste/Octogonal eram a RA XXII (por coincidência um múltiplo de 11).
7- Quando
da criação da RA XXII em 2003, até se cogitou criar um nome só para os dois
setores. Um nome como Interparque até foi cogitado, mas nunca pegou. A região
foi conhecida por um nome duplo, pois não havia uma conexão, uma identidade
maior que servisse tanto para Sudoeste quanto para Octogonal. Aliás o setor
mais antigo ainda ficou depois no nome, e geralmente as pessoas só se referiam
mesmo era à Administração do Sudoeste. Nunca vi ninguém da Octogonal reclamar.
8- Sudoeste
e Octogonal são dois setores com uma renda per capita das mais altas do DF, um comércio
forte e uma população de 50 mil pessoas. Mas os dados do Cruzeiro não ficam tão
atrás assim, e afinal, para se definir e nomear uma Região Administrativa, que
não é exatamente uma prefeitura, mas é o que dá a condição de cidade para
núcleos urbanos no DF, o que ressalto aqui é a história e a identidade cultural
construída ao longo de 55 anos.
9- Discordo
de um nome conciliatório. Chamar a RA agora de Sudoeste/Octogonal/Cruzeiro ou
Cruzeiro/Sudoeste ou qualquer outro composto seria desconsiderar todo o
histórico local. Tanto Sudoeste quanto Octogonal são nomes de setores, assim
como o são Cruzeiro Velho (SRES) e Cruzeiro Novo (SHCES). O nome consagrado
historicamente e que representa a junção dos quatro é um só: CRUZEIRO.
Posso
estar sendo redundante, e para muitos isto talvez nem tenha a menor
importância. O que se quer com a fusão é diminuir os gastos com duas
administrações para uma área geográfica pequena. Neste ponto concordo
plenamente. Mas vejam o exemplo da Ceilândia que teria duas administrações. A
maior cidade do DF usou argumento equivalente. Uma Administração Regional é
parte da identidade das cidades, e deve valer o legado histórico construído por
seus moradores.
Rafael Fernandes de Souza é
professor de História da rede pública com especialização em História Cultural.
Foi Gerente de Cultura do Cruzeiro (2011 a 2014) e implantou a Casa da Memória
do Cruzeiro em parceria com o Arquivo Público do DF.
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